Coisas que fazemos com macarrão que fariam um italiano chorar

Se falamos em massa, falamos em Itália. Todos nós a cozinhamos, todos nós a apreciamos... e mais de um de nós a profanou sem saber, porque a massa perdoa quase tudo: falta de tempo, de ideias... até mesmo de vontade. Porque a massa perdoa quase tudo: falta de tempo, falta de idéias... até mesmo falta de desejo. Quem nunca esvaziou um pote de pesto industrial em um espaguete e chamou isso de receita? Mas, com essa confiança, também cometemos um sacrilégio.
Do lado de fora, nos lançamos com entusiasmo, sim, mas também com uma inconsciência alegre que, vista da Itália, beira o imperdoável. Gestos inocentes, como quebrar o espaguete antes de fervê-lo, para nós são cotidianos... para eles, uma profanação. Achamos que estamos improvisando com graça e, enquanto isso, em algum canto de Bolonha, alguém está com as mãos na cabeça.
Tem certeza de que não pecou também? Aqui estão alguns costumes que, sem querer, minam a santidade da massa. Nenhum carabiniere virá atrás de você, mas se estiver jantando com um italiano... é melhor estar preparado.
1. Quebrar o macarrão longo antes de cozinhá-lo
Quebrar o espaguete antes de cozinhá-lo é um desses costumes que, fora da Itália, passa por prática. Mas, em seu país de origem, é considerado desrespeitoso. A massa longa não é quebrada: ela é dobrada, torcida e acompanhada. Dividi-lo é quebrar o equilíbrio entre a forma, a textura e a maneira de comer.
2. Cozinhar o macarrão até ficar "macio"
Se a massa perdeu toda a resistência, se ela se desfaz antes de chegar ao garfo, se você poderia alimentá-la a um bebê sem amassá-la... ela está cozida demais. E o mais grave: ela se afastou completamente do ponto al dente, aquela firmeza sutil que define o cozimento perfeito. Inaceitável.
3. Adicionar óleo à água de cozimento
"Assim não gruda", dizem. Mas o óleo na água de cozimento não cumpre essa promessa. Ele apenas flutua na superfície, não impede que o macarrão se aglomere e, pior, impede que o molho grude adequadamente. De acordo com alguns, ele também desperta a desaprovação silenciosa de gerações de avós italianas.
4. Cortar o espaguete com uma faca e um garfo
Nós sabemos: o espaguete - e outras massas longas - pode parecer pesado. Mas cortá-los com garfo e faca não é uma solução prática, é um erro. Na Itália, isso é considerado desrespeitoso com o prato. A coisa certa a fazer é virá-los com um garfo até que formem um pequeno ninho. E se você precisar de uma colher para apoiar, use-a discretamente.
5. Misturar sobras de massas de diferentes tipos
Metade de um saco de penne, alguns fusilli órfãos, três rigatoni que sobraram no fundo do pacote... por que não juntá-los todos? Bem, porque na Itália não se faz isso. Cada formato tem sua própria personalidade, seu próprio molho ideal, seu próprio tempo de cozimento. Misturá-los é como fazer uma colagem com páginas soltas de diferentes livros e chamá-la de romance.
6. Adicionar creme de leite à carbonara (e chamá-la de carbonara)
Esse é provavelmente o maior pecado de todos. Não há creme de leite em uma carbonara de verdade. Não há cebolas. Não há cogumelos. Apenas ovos, queijo pecorino, guanciale e pimenta. Nada mais. Nada menos. Se você adicionar creme de leite, chame-o de outra coisa: não é carbonara. E não dizemos isso por purismo, mas por respeito à receita original.
7. Polvilhar o macarrão com queijo sem pedir
É quase um reflexo: prato de macarrão, chuva de parmesão. Mas nem todos apreciam. Alguns, especialmente os que comem frutos do mar, rejeitam-no completamente. Adicionar queijo nesses casos não é apenas um erro: para um italiano, pode ser quase ofensivo. Pergunte primeiro. Ou observe seus olhos: se você vir suas pupilas dilatarem, deixe o ralador de lado.
8. Adicionar ketchup ao macarrão
Pesto alla genovese, rosso ou calabrese. Salsa al limone, puttanesca, amatriciana, ragù alla bolognese... A culinária italiana passou séculos aperfeiçoando seus molhos. Adicionar ketchup a um prato de macarrão não é uma licença criativa: é uma simplificação desnecessária que prejudica tanto o produto quanto o paladar.
9. Servir o macarrão como acompanhamento
Ao lado de um bife, como acompanhamento de um peito de frango... em muitas cozinhas espanholas, a massa foi reduzida ao papel secundário de um acompanhamento. Mas na tradição italiana, a massa é sempre a protagonista. Ela é um piatto primo, um piatto primo por si só, projetado para ser servido sozinho.
10. Usar pão para empurrar o macarrão (sem fare la scarpetta corretamente)
Na Itália, o pão e o macarrão não são misturados de forma leve. Usá-lo para empurrar o espaguete como se fosse uma pá é um gesto pouco refinado que está fora de lugar à mesa. O que é permitido (e celebrado) é fare la scarpetta: pegar o último molho com um pedaço de pão quando o prato estiver pronto. Mas somente no final e sempre de forma discreta.
11. Manter o macarrão cozido na geladeira por mais um dia e reaqueça-o
O macarrão não é um ensopado. Nem o ponto, nem a textura, nem a graça sobrevivem ao resto. Resfriar a massa cozida para reaquecê-la no dia seguinte (especialmente se já estiver misturada ao molho) transforma o que antes era um prato vibrante em uma massa pastosa sem nuances. Na Itália, a massa não é reutilizada: ela é servida recém-feita, com o tempo de cozimento e o tempero certos.
12. Reservar o molho quando ele estiver cozido
Escorra o macarrão, sirva-o no prato e adicione uma colher de molho por cima: uma cena comum em muitas mesas, mas longe de ser a maneira correta de prepará-lo. Na culinária italiana, o molho não é adicionado no final, ele é adicionado antes, na panela, com um pouco de água do cozimento e um breve refogado para unir tudo.
Erros inofensivos ou heresias gastronômicas?
Não se trata de dar a volta ao mundo com medo de ferver macarrão, mas de entender que, na Itália, a massa não é apenas comida: é cultura, identidade, quase religião. Portanto, da próxima vez que cozinhar espaguete, lembre-se destas linhas. E se decidir ignorá-las... pelo menos faça isso com pleno conhecimento de causa.

Comentários