Alimentos ultraprocessados: 7 em cada 10 pessoas não sabem o que são

Obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e até mesmo alguns tipos de câncer. Cada um desses distúrbios tem sido associado, em maior ou menor grau, ao consumo regular de alimentos ultraprocessados. Organizações como a Lancet, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e praticamente todas as instituições científicas sérias no campo da nutrição alertam para esse fato. O que é alarmante não é apenas o fato de consumirmos esses produtos regularmente, mas também o fato de fazermos isso, muitas vezes, sem perceber. Literalmente.
Pesquisas em diferentes países revelam que grande parte da população mundial não sabe o que é um alimento ultraprocessado e, em muitos casos, nem mesmo entende o termo. Em outras palavras, compramos e comemos produtos que prejudicam nossa saúde, acreditando, em muitos casos, que são opções saudáveis.
O paradoxo é claro: vivemos cercados por alimentos que são anunciados como “fonte de fibras”, “sem adição de açúcares” ou “ricos em cálcio”, mas são altamente processados, pobres em nutrientes e projetados para serem irresistíveis. Comemos o que parece ser comida, o que nos é vendido como saudável... mas não é.
O que são, de fato, alimentos ultraprocessados?
Para entendê-los, é preciso ir além da aparência ou do sabor. A classificação mais amplamente aceita é o sistema NOVA, desenvolvido por pesquisadores brasileiros e endossado pela Organização Pan-Americana da Saúde. Esse sistema distingue os alimentos de acordo com seu grau de processamento e coloca os alimentos ultraprocessados - produtos que são fabricados industrialmente a partir de ingredientes refinados, com pouco ou nenhum alimento integral em sua composição - no nível mais baixo.
Esses alimentos incluem não apenas alimentos de conveniência e lanches, mas também bebidas vegetais, iogurtes adoçados, pães industrializados, cereais matinais, carnes reconstituídas, barras energéticas e até mesmo algumas sopas e caldos prontos para o consumo. Eles geralmente contêm açúcares adicionados, gorduras refinadas, amidos modificados, emulsificantes, conservantes e outros aditivos cujo objetivo não é nutrir, mas melhorar o sabor, a textura e o prazo de validade.
O resultado é um produto projetado para ser hiperpalatável, viciante e lucrativo, mas profundamente desconectado do alimento original.
A ignorância não é inocente
O fato de que mais da metade dos espanhóis não consegue identificar um alimento ultraprocessado não é apenas anedótico: é um reflexo de como o marketing e a desinformação venceram a educação nutricional.
A maioria dos consumidores não distingue entre um biscoito "digestivo" e um pedaço de fruta. Acredita-se que um iogurte potável seja adequado para o café da manhã das crianças ou que um suco embalado seja equivalente a uma porção de fruta. De acordo com o mesmo estudo da FJSC, 30% dos entrevistados não apenas desconhecem quais produtos são ultraprocessados, mas nem mesmo sabem o significado do termo.
Essa ignorância cria uma falsa sensação de escolha saudável que tem consequências reais: a obesidade infantil disparou na última década, e a Espanha já está entre os países com maior consumo de produtos ultraprocessados na Europa, de acordo com dados da revista The Lancet Public Health e da Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição (AESAN).
O que a ciência diz
O consumo frequente de alimentos ultraprocessados está associado ao aumento do risco de obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2, síndrome metabólica e certos tipos de câncer, de acordo com estudos do BMJ, The Lancet e da OMS.
Uma pesquisa realizada na França com mais de 100.000 pessoas concluiu que 10% a mais de alimentos ultraprocessados na dieta aumenta o risco de mortalidade em 14%. Não só pelo que eles contêm, mas também pelo que eles substituem: frutas, verduras, legumes ou grãos integrais.
Como alerta o nutricionista Carlos Ríos, "só porque você pode comer, não significa que seja um alimento". Ele recomenda limitar esses produtos a menos de 10% da dieta e priorizar "alimentos de verdade: frutas, verduras, legumes, ovos, carnes não processadas, nozes, grãos integrais".
Isso é comida... ou apenas parece comida?
Aprender a ler rótulos, desconfiar de alegações chamativas, cozinhar mais em casa e priorizar alimentos frescos é a melhor defesa contra um ambiente projetado para nos seduzir com opções rápidas, baratas e perigosamente viciantes.
A batalha contra os alimentos ultraprocessados não é apenas uma questão de saúde pessoal, mas de saúde pública. E ela começa com uma pergunta simples: isso é comida... ou apenas parece comida?
