"Desculpe, eu estava com fome!" Por que ficamos com raiva quando estamos com fome?

O cérebro depende quase que exclusivamente da glicose como fonte de energia. É o "combustível" de que ele precisa para funcionar adequadamente. Quando ficamos sem comer por um longo período, nossos níveis de glicose caem e o cérebro sofre. Essa hipoglicemia faz com que o cérebro não funcione 100%. Você provavelmente já se sentiu mais desajeitado, cansado, confuso e, é claro, mais irritável quando ficou muito tempo sem comer.

Quando os níveis de glicose no sangue caem, o cérebro dispara sinais que estimulam vários órgãos a produzir e liberar hormônios que elevam os níveis de açúcar no sangue do corpo. Esses hormônios incluem a epinefrina e o cortisol, também liberados em momentos de estresse, que preparam o corpo para lidar com situações adversas, aumentando a tensão e a predisposição para reagir de forma agressiva. Esse mecanismo biológico explica por que nos sentimos mais tensos e desagradáveis quando estamos com fome.

De uma perspectiva evolutiva, a fome desencadeia um estado de sobrevivência no cérebro. Esse estado nos leva a nos concentrarmos na obtenção de alimentos, deixando outras atividades em segundo plano. Esse foco pode levar a uma menor tolerância e maior irritabilidade com relação a estímulos não relacionados à alimentação. Essa resposta é uma estratégia adaptativa para garantir a ingestão necessária para a sobrevivência.

O estado de fome não afeta apenas nossas funções fisiológicas, mas também nossa percepção do ambiente. De acordo com um estudo publicado na revista PLOS ONE em 2022, os pesquisadores descobriram que, quando uma pessoa está com fome, ela tem maior probabilidade de interpretar negativamente os sinais externos, o que aumenta a irritabilidade e os sentimentos de raiva. Além disso, descobriu-se que os baixos níveis de glicose no sangue estão associados ao aumento da sensação de frustração e à diminuição da capacidade de regular as emoções. Essas descobertas sugerem que a fome pode distorcer nossa avaliação de situações e pessoas, intensificando as reações emocionais.

Da próxima vez que você sentir que a fome o transforma em uma versão menos amigável de si mesmo, lembre-se de que há fundamentos biológicos e psicológicos por trás dessa reação. A compreensão desses mecanismos pode nos ajudar a gerenciar melhor nossas emoções e evitar conflitos desnecessários.